As baleias-de-bryde são quase um mistério para os pesquisadores de cetáceos no Brasil e no mundo. Com poucas informações disponíveis sobre o animal, os estudiosos têm diferentes teorias sobre sua classificação. A Comissão Internacional Baleeira (CIB, 2018) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN, Versão 2018-1) consideram a baleia-de-bryde como uma única espécie, Balaenoptera edeni.
O Comitê Ad-Hoc de Taxonomia da Sociedade de Mamíferos Marinhos (2018) admite a ocorrência como duas subespécies: a baleia-de-bryde-oceânica (B. edeni edeni) e a baleia-de-eden (B. edeni brydei).
Já outros pesquisadores consideram que existem duas espécies: B. edeni, descrita no final do século XIX pelo zoólogo escocês John Anderson, e B. brydei, descrita no início do século XX pelo zoólogo norueguês Orjan Olsen.
O "complexo edeni/brydei" sofre com essa confusão taxonômica em nível global. Diferenças morfológicas, osteológicas, genéticas, ecológicas e comportamentais foram reportadas entre as várias populações do mundo.
Pastene e colaboradores (2015) sugerem que as baleias do Peru, Chile e Brasil pertencem à espécie B. brydei com base em análises genéticas.
Pastene, L.A.; Acevedo, J.; Siciliano, S.; Sholl, T.C.G.; Moura, J.F.; Ott, P.H.; Aguayo-Lobo, A. 2015. Population genetic structure of the South American Bryde's whale. Revista de Biología Marina y Oceanografía. 50 (3): 453-464.
Outros nomes comuns: Espadarte, rorqual-tropical, baleia-sardinheira
Presente nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, a baleia-de-bryde não realiza extensos movimentos migratórios como as demais espécies de baleias costumam fazer. Ela permanece ao longo de todo o ano em águas quentes, onde presume-se que seja capaz de satisfazer suas necessidades nutricionais e reprodutivas, raramente alcançando as regiões temperadas frias.
Acredita-se que os movimentos das populações costeiras sejam governados pela distribuição e abundância de suas presas. No Brasil existem registros confirmados desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, além dos estados da Paraíba, do Maranhão e do Pará.
Essa baleia é avistada regularmente na região Sudeste nos meses de primavera, verão e outono. Em São Paulo, de Itanhaém até a Ilha da Queimada Grande, Laje de Santos, passando por Guarujá e Bertioga até São Sebastião, em especial no entorno da Ilha do Montão de Trigo, do Arquipélago de Alcatrazes, de Ilhabela e das Ilhas de Búzios e de Vitória até Ubatuba.
No Rio de Janeiro, as localidades de frequência da espécie incluem a Baía da Ilha Grande, Restinga da Marambaia, Barra de Guaratiba, região metropolitana do Rio de Janeiro, Praias de Piratininga a Itaipu (Niterói), Itaipuaçu, Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios.
A sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis), um dos principais itens de sua dieta, aproxima-se da costa para desovar no fim da primavera e no verão. Também há ocorrências de desova na região costeira próxima a Cabo Frio durante o outono e início da primavera. Nessas oportunidades, não é raro observar as baleias-de-bryde alimentando-se dos cardumes.
Habitat:
Costeiro/Oceânico
» Corpo esguio.
» Coloração cinza-escuro prateada uniforme no dorso e esbranquiçada na região ventral, que às vezes pode ser também levemente rosada. A coloração escura continua para baixo, alcançando algumas pregas ventrais e a nadadeira peitoral. Podem existir manchas claras nos flancos ou entre a cabeça e a nadadeira dorsal. É comum haver pequenas marcas ovais ou circulares brancas ou creme ao longo do corpo, como resultado de cicatrizes causadas por mordidas de tubarões-charuto (Isistius spp.), por cracas que se desprendem do corpo e/ou deixadas por parasitas.
» A cabeça é proporcionalmente larga para um balaenopterídeo e plana, representando cerca de 25% do comprimento do corpo. A forma da cabeça é um tanto pontiaguda se vista de cima. Presença de uma quilha central proeminente e duas quilhas laterais ou acessórias na superfície superior da cabeça. As três quilhas paralelas, de extensões semelhantes, são uma característica única entre os balaenopterídeos, mas são apenas nitidamente observadas em uma vista dorsal da cabeça. Em alguns indivíduos as quilhas laterais são pobremente desenvolvidas, ao ponto de quase não serem notadas.
» Nadadeira dorsal afastada do centro do dorso. Alta (cerca de 46cm de altura), pronunciada e falcada com extremidade pontiaguda. A nadadeira dorsal ascende abruptamente do dorso, ao contrário da baleia-sei (B. borealis) e da baleia-fin (B. physalus) que se eleva em um ângulo mais suave.
» Comprimento no nascimento: 4m | Comprimento do adulto: de 13m a 15,6m, sendo no máximo de 16,5m.
» Natação rápida, sendo capaz de se deslocar em velocidades de até 25km/h.
» Quando na superfície, onde permanece por curtos períodos de tempo, raramente exibe mais que o topo da cabeça. No entanto, o dorso e a nadadeira dorsal são usualmente visíveis apenas antes de um mergulho longo. Arqueia fortemente o pedúnculo da nadadeira caudal antes submergir, mas a nadadeira caudal não é visível acima da superfície da água antes do mergulho. Pode alcançar profundidades de até 300m.
» Tempo de submersão: 2 a 8 minutos, com máximo de 20 minutos. Tipicamente respira de 4 a 10 vezes antes de submergir.
» Apresenta uma sequência irregular de deslocamento e de mergulho, especialmente quando está se alimentando, ocasião em que muda o curso do deslocamento com maior frequência e de forma imprevisível, pois se desloca com súbitas acelerações e mudanças de direção em zigue-zague, tanto abaixo quanto acima da superfície, um estilo típico de natação dessa espécie.
» Ocasionalmente pode saltar quase que verticalmente, mas na maioria das vezes emerge até a altura da nadadeira dorsal ficando o restante do corpo submerso. Em algumas ocasiões dobra o corpo para trás enquanto salta, batendo com o dorso na superfície da água. Pode saltar duas ou três vezes consecutivas.
» Sua resposta à aproximação de embarcações varia bastante e pode ser influenciada por muitos fatores. Eventualmente pode se aproximar de barcos, nadando em círculos à sua volta ou se deslocando nas suas proximidades por um curto período de tempo. Em outras ocasiões chega a ser bastante esquiva, a ponto de não permitir a aproximação.
O borrifo da baleia-de-bryde é razoavelmente visto à distância. Ela, em geral, exala abaixo da superfície da água, o que torna seu borrifo difuso. Quando bem visível, é espesso e estreito, em forma de coluna, podendo alcançar de 2 a 4m de altura.
Em geral, os grupos de baleias-de-bryde possuem de uma a quatro baleias. Agregações maiores, com até 20 indivíduos, são temporárias e podem ser encontradas de forma dispersa em locais de alimentação. Agregações são definidas quando vários indivíduos estão reunidos na mesma área, mas sem uma organização interna óbvia.
Pequenos peixes que formam cardumes como os das famílias Clupeidae, Engraulidae, Gempylidae, Gerridae, Mugilidae e pequenos crustáceos como krill, camarão-aviu (Acetes americanus) e copédodos. As baleias-de-bryde alimentam-se com frequência subindo diagonalmente através do grupo de presas, com a boca aberta que pode alcançar um ângulo de 90° ou mais.
Capturas acidentais em redes de pesca, degradação e perda do habitat, poluição (doméstica, química e sonora), colisão com embarcações e molestamento intencional.
Status: Baixo Risco.
IUCN, versão 2018.1 - http://www.iucnredlist.org
Status: Dados Deficientes
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 2001. Mamíferos aquáticos do Brasil: plano de ação. Versão II. Brasília: IBAMA. Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros. 96 p.
Lodi, L.; Borobia, M. 2013. Baleias, botos e golfinhos do Brasil: Guia de identificação. Editora Technical Books, Rio de Janeiro. 479 p.